Turismo: uma retoma robusta, mas ainda incerta | Eventos, Artigos e Notícias | AgroB

Turismo: uma retoma robusta, mas ainda incerta

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À medida em que entramos na chamada “época alta”, todos os dados parecem antecipar uma recuperação quase plena da atividade em comparação com o período pré-pandémico. Contudo, o drama da guerra da Ucrânia, totalmente inesperado, coloca mais um manto de incerteza relativamente ao futuro. Na nossa opinião, prevemos que Portugal deverá manter e consolidar a sua posição de destino turístico internacional de qualidade. Contudo, não poderá ficar imune ao arrefecimento da atividade económica em consequência da já anunciada elevação das taxas de juro e deverá adaptar-se ao crescimento dos custos energéticos que estão a afetar o setor tanto do lado da procura como da oferta.

 

À medida em que entramos na chamada “época alta”, todos os dados parecem antecipar uma recuperação quase plena da atividade em comparação com o período pré-pandémico. Contudo, o drama da guerra da Ucrânia, totalmente inesperado, coloca mais um manto de incerteza relativamente ao futuro. Na nossa opinião, prevemos que Portugal deverá manter e consolidar a sua posição de destino turístico internacional de qualidade. Contudo, não poderá ficar imune ao arrefecimento da atividade económica em consequência da já anunciada elevação das taxas de juro e deverá adaptar-se ao crescimento dos custos energéticos que estão a afetar o setor tanto do lado da procura como da oferta.

 

 ATIVIDADE TURÍSTICA, Estatísticas rápidas do INE, 30 de junho de 2022.

Figura: ATIVIDADE TURÍSTICA, Estatísticas rápidas do INE, 30 de junho de 2022.

 

Analisando os dados mais recentes do INE, podemos verificar que os primeiros 5 meses de 2022 apresentam um número total de dormidas já muito perto de 2019 em igual período. Olhando para a curva, podemos até antecipar um verão com mais dormidas, superando os números de 2019, deixando para trás a pandemia que foi devastadora para o setor do turismo. Vale a pena registar um reforço dos turistas residentes e um ligeiro crescimento do tempo médio de estadia. Veremos se estamos perante um mero efeito conjuntural ou uma tendência.

Infelizmente, esta recuperação, pela qual todos ansiávamos, está neste momento a ser posta em causa pela guerra da Ucrânia que veio baralhar novamente todos os cenários. A Organização Mundial do Turismo (OMT) avança com várias previsões com quebras de turistas estrangeiros que oscilam entre os 50 e 63% em comparação com 2019.

Para além da interrupção do mercado turístico russo e ucraniano avaliados no seu conjunto em cerca de 45 mil milhões de euros (números de 2019), a OMT sublinha a perda de confiança dos consumidores que afeta negativamente a procura de destinos turísticos internacionais. Este impacto é naturalmente diferenciado em função dos destinos e Portugal parece estar neste momento relativamente imune a estes efeitos diretos.

O mesmo não se poderá dizer em relação aos efeitos indiretos do conflito que têm estado a colocar a inflação muito perto dos 2 dígitos, como não acontecia há já muitas décadas. A elevação dos preços faz-se sentir sobretudo ao nível da energia, contagiando tudo o resto, mas também ao nível de matérias-primas essenciais como sejam os cereais, ou os adubos. Com este cenário de inflação, os consumidores irão perder poder de compra de duas maneiras. Em primeiro lugar, a inflação irá corroer o poder de compra dos salários que não irão acompanhar as taxas de inflação. Em segundo lugar, e sobretudo para quem têm dívidas à banca, as taxas de juro estão já a aumentar fazendo crescer os encargos com a compra de casa, carro ou outros bens duráveis. Não são poucos aqueles que anteveem um quadro de “estagflação” com aquele que a Europa viveu na década de setenta do século passado, com estagnação económica e inflação. Outros mais pessimistas preveem mesmo uma recessão para 2023.

Como em tudo na vida, existem fatores controláveis e outros não. Tudo indica que 2022 será um bom ano para o turismo em Portugal. Contudo, para 2023, podemos contar com políticas contracionistas do BCE para travar a inflação. Os custos energéticos continuarão em alta, colocando a transição energética no centro das preocupações de todos os agentes económicos. Esperemos, também, que a paz regresse o mais rapidamente possível. Neste cenário ainda muito volátil, o mais importante é prosseguir o excelente trabalho realizado até aqui pelo setor que tanto contribui para fazer de Portugal um destino seguro, competitivo e de grande qualidade,  esperando que sejam outros destinos a arcar com os custos da crise.

 

Autor do artigo:
Miguel Viegas (Aluno da 2ª Edição do Programa Avançado em Alojamento Local e Turismo Rural e Professor auxiliar na Universidade de Aveiro)