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Citrinos: Ouro a Qualquer Hora

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EXISTE NO NOSSO PLANETA UMA ENORME VARIEDADE DE ESPÉCIES DE CITRINOS. Os seus antepassados são originários do sudeste asiático. Apesar de terem sofrido muitas mutações, a sua origem tropical ainda tem efeito no desenvolvimento das plantas. São árvores ou arbustos de folha persistente, ou seja, não perdem folhagem na altura do inverno. Não tendo este mecanismo de proteção, que a grande parte das árvores de fruto de clima temperado têm, os citrinos não estão bem adaptados a temperaturas negativas.

Muitas das espécies de citrinos que atualmente conhecemos foram obtidos através de cruzamentos entre espécies de forma artificial. A sua origem pode remontar ao cruzamento de apenas três espécies: a tangerina (Citrus reticulata), a cimboa (Citrus maxima) e a cidra (Citrus medica) [não confundir com sidra]. Contudo, não há garantia que estas espécies que deram origem a tantas outras não sejam também o resultado de cruzamentos que possam ter ocorrido de forma natural.

 

Figuras: Tangerina [1], Cimboa [2] e Cidra [3]

 

Figura: Espécies de citrinos obtidas através de cruzamentos entre as 3 espécies ancestrais
Adaptado de: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Citrus_tern_cb_simplified.svg

 

De modo geral, todos os citrinos têm um elevado teor em ácido cítrico. No caso específico das limas e limões, esta substância pode chegar a representar 8% da sua massa seca. A sensação de acidez que sentimos ao ingerir estes frutos deve-se, em grande parte, à presença deste ácido. Grande parte das bactérias e fungos não conseguem sobreviver em ambientes de pH baixo, o que faz o ácido cítrico o principal agente preservante usado na indústria alimentar. Em tempos, este ácido era extraído dos citrinos. Contudo, durante a Primeira Guerra Mundial, os italianos interromperam a exportação de citrinos, o que motivou a descoberta de novos métodos de fabrico. Hoje em dia, o processo de produção de ácido cítrico é de síntese química e não de extração a partir de citrinos.

Ainda assim, os citrinos continuam a ser os frutos mais produzidos no mundo, com cerca de 125 milhões de toneladas produzidas anualmente, não só para serem consumidos em fresco, mas também para a sua transformação, em especial para sumos e concentrados.

A grande procura por parte do consumidor deve-se não só ao ótimo sabor e aroma associado a cada espécie, mas também porque nos citrinos estão presentes vários compostos com elevada capacidade antioxidante. O mais emblemático é certamente a vitamina C, mas nos últimos anos tem-se descoberto outros compostos que provam que a laranja e os restantes citrinos são realmente como ouro para a nossa saúde, independentemente da altura do dia que os consumimos.

Já há muitos anos que há a tradição na produção de citrinos em Portugal. Comparando com a produtividade média mundial (kg/ha) das várias culturas de citrinos, conseguimos atingir valores semelhantes. O nosso clima, com invernos relativamente pouco rigorosos, é bem adequado às várias culturas. Uma das variedades de limão mais difundidas a nível mundial é portuguesa: a cultivar “Lisboa” é uma variedade de elevado vigor, prolífica e rústica, resistindo bem a condições de temperaturas extremas, assim como a ventos fortes.

 

Figuras: Variedade de limão “Lisboa”

 

Apesar de sabermos que os citrinos estão bem adaptados em Portugal e que não têm grandes necessidades de manutenção, se não começarmos a expandir, renovar e inovar os nossos pomares, deixaremos de conseguir dar resposta às necessidades de consumo no nosso país, bem como às exportações de citrinos portugueses. A produção de laranjas está bem difundida, resultando numa balança comercial positiva. Contudo, o mesmo não acontece para as tangerinas, limões e limas: apesar de nos últimos 10 anos termos aumentado as exportações de citrinos, as quantidades importadas também cresceram. Há que dar o salto! Reunimos todo o potencial para fazer crescer este setor frutícola: produzindo mais, será possível dar resposta ao consumo nacional e reduzir as importações, criando condições para uma balanço positivo na sua internacionalização.

 

Autor do artigo:
Gonçalo Nascimento (Técnico e investigador agrónomo)